sábado, 7 de junho de 2008

Vó Maria

Na década de 50/60, todos sem excessão eram muito respeitosos às tradições, principalmente as tradições religiosas......com isso todas as emissoras de rádio as 6 horas da tarde faziam um momento de oração a Nossa Senhora, e tocavam a "Ave Maria".....naquela época também se velavam os mortos nas residências...e para isso era feito todo um ritual.......como nossa casa ficava a uns tres quarteirões do cemitério da Penha, sempre que morria algum conhecido, fazia-se um cortejo, com os homens segurando o caixão, indo a pé até o cemitério....e.... nós as crianças íamos na frente segurando as flores....e quando o cortejo passava em frente de algum cormércio, os donos abaixavam as portas em sinal de respeito, assim como os homens tiravam os chapéus, e colocavam na altura do peito.....
Mas o que eu quero contar é outra estória.......
Bem em frente da nossa casa lá na Leopoldo Machado, morava uma senhora negra, muito boazinha, que chamávamos de vó Maria...ela era um docinho de coco, de tão querida que ela era....sabe essas pessoas prestativas? que se dispoem a ajudar aos outros pelo simples prazer de ser útil? assim era a vó Maria.....um dia a vó Maria morreu...... antes dela, eu nunca tinha visto uma pessoa morta, muito menos um velório....e pra variar fiquei apavorada....mas minha mãe obrigou todos nós a irmos no velório e no enterro, pois quando mudamos para lá, a vó Maria deu uma senhora força para ela...então em reconhecimento minha mãe achava que nós tínhamos que velá-la......o enterro aconteceu, e eu e a Dalva, ficamos encucadas com a estória do velório....um dia a Dalva me chamou para brincarmos de morta.....eu ficava deitada na cama com as mãos postas, e a Dalva ficava chorando de joelhos ao meu lado.....(brincadeira besta, credo!)...e lá estávamos nós brincando, quando a Dalva resolve ligar um radinho azul, que ficava no criado mudo da cama do meu irmão Jose Carlos....mas deixa estar que eram 6 horas da tarde e era hora da Ave Maria....quando a Dalva ligou, estava tocando a bendita música, e o cantor tinha uma voz possante e cantava bem devagar e bem fúnebre(para nós, é claro).....nossa que susto nós levamos....nós descemos a escada aos tropeções , gritando feito duas loucas....ahahahahah....não consigo parar de rir lembrando.....minha mãe sem entender nada, ficou hiper nervosa, pois nós chorávamos e não conseguíamos falar coisa com coisa......acho que ela, mesmo depois que nós nos acalmamos e conseguimos contar a estória, não entendeu......
Lembrando da minha infância, fico pensando cá com meus botões, que mesmo sem a modernidade, sem a tecnologia, aqueles tempos eram muito mais salutares que hoje em dia...pois havia respeito....palavra praticamente abolida do cotidiano moderno.

Nenhum comentário: