quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Caminhos quase suaves....

Na minha infância, praticamente não existia perigo algum, com isso eu e minha irma Dalva, íamos sozinhas para a escola...mas estas idas e vindas, por sermos crianças normais, sadias, levadas e intensas, foram marcadas por vários momentos engraçados, só um acontecimento que foi meio dramático, mas neste acontecimento eu já era adolescente.....mas vamos as minhas lembranças.....
Sempre que chovia, eu e a Dalva íamos para a escola com nossa capa azul-marinho e um guarda-chuva também azul-marinho....imposição das freiras.......até nosso agasalho de frio era um modelito escolhido por elas, era um casaquinho de lã azul-marinho e nos punhos e na barra, tinha duas carreiras de lã vermelha intercaladas com uma carreira de lã azul -marinho.....este casaquinho era muito bonito,mas como naquele tempo São Paulo garoava demais e o frio era mais intenso...só ele não aguentava o repuxo não, e mesmo assim, não podíamos ir com outra blusinha de lã, ...o que fazia minha mãe então....enchia a gente de agasalhos por baixo do uniforme......ô dó! parecíamos aqueles bonecos de panos bem gordas e só a cabeça de porcelana.....rsrsrsrsrs....
Em uma esquina da rua Caquito, existia uma farmácia, e bem em frente a ela, tinha um bueiro, e a tampa deste bueiro estava meia solta e com um pedaço quebrado, aparecendo os ferros. Sempre que passávamos por ali, desviávamos.....mas um dia em que estava chovendo muito e talvez por andar toda encolhida , sem querer pisei na tampa, e esta mexeu....doidinha do jeito que eu era, achei gostoso...e pulei pro outro lado...e a tampa mexeu novamente....ah! foi a conta, me perdi pulando de um lado pro outro...parecia uma gangorra...e nesse pula prá lá, pula pra cá...a tampa vira de vez, e eu caí lá dentro.....que susto! olha eu e a Dalva berrando em plenos pulmões...o farmacêutico saiu em plena chuva para me resgatar...eu estava toda arranhada nas pernas , pelos ferros...e toda suja....o senhor me levou para casa e tive que ficar de molho por uns dias....pois além das pernas machucadas, peguei uma senhora gripe........
No largo da Penha existia uma filial das lojas Pernambucanas e minha mãe ia sempre lá comprar tecidos para fazer nossos vestidos e shorts para os meninos, com isso ela formou uma amizade bem bacana com as vendedoras e gerente...e sempre que ela ia lá, eu e a Dalva íamos também......
Um dia pra não perder o costume, quando estávamos indo para a escola, eu e a Dalva brigamos...coisa normal entre nós duas naquela época...rsrsrsrsrs...aí fiz pirraça pra ela...fiquei parada enquanto ela andava....e ela durona e tinhosa do jeito que ela era...não tava nem aí pra mim....quando a perdi de vista, me apavorei e saí correndo atrás dela....e nessa correria tropecei e caí de cabeça no poste de ferro que ficava bem enfrente as casas Pernambucanas....eu só escutei o tóiiiiiiiiiiimmmmmmm! rsrsrsrs e caí desmaiada...rsrsrsrsrsr..... voltei a mim com um senhor galo na testa e as vendedoras dizendo umas pras outras....."mas essa não é a menina da dona Marina?"...conclusão...lá fui eu outra vez pra casa, com um galo na testa......acho que sou meia doida devido a tantas pancadas que levei na cabeça....rsrsrsrsrsr....
O tempo passou, fui estudar no Liceu Santo Afonso e lá conheci a Márcia, e ficamos muito amigas , mas amigas mesmo...e por incrível que pareça tínhamos muitos assuntos para conversar...e tempo de menos para ficarmos juntas...como ela morava no bairro do Cangaíba, o que eu fazia...vira e mexe ia com ela até o largo da Penha, pois era alí que ela pegava o ônibus....
Naquele tempo estava na moda, usar fichário...moça que era moderna usava fichário e prancheta....chic nos úrtimos!...
Um dia, quando saímos da escola, eu e a Márcia conversamos, conversamos e como tínhamos muito ainda para conversar, resolvi acompanhar minha amiga até o ponto do ônibus.....falamos, falamos...passou uns três a quatro ônibus, quando vimos que já era uma hora da tarde...apavorada dei um beijo nela e estou indo embora pra casa a passos ligeiros, quando vi um senhor que estava na minha frente cair ...ele bateu com a cabeça no chão e saía muito sangue...só que o senhor estava tendo um ataque epilético...eu nunca tinha visto até então alguém tendo uma crise de epilepsia....e me desesperei....comecei a gritar para as pessoas irem acudir o homem....mas naquele tempo, existia muito preconceito e medo em relação aos epiléticos, todos achavam que a saliva que eles soltavam era altamente contagiosa...com isso ninguém ia ajudar .....e eu nervosa...nervosa, vendo o sangue escorrer e o homem se contorcer.....gritei, gritei pedindo socorro e nada....aí não tive dúvidas, joguei meu fichário com prancheta e folhas no chão..e fui tentar ajudar o homem...mas ele se debatia por demais e eu cai no chão também....aí era o homem tendo um ataque epilético e eu tendo um ataque histérico, pois queria ajudar e não conseguia.....quando o carro da polícia chegou eu estava muito mais atacada que o homem...e nós dois fomos encaminhados para o hospital da Penha......mais tarde minha mãe foi informada do ocorrido e foi me buscar.....nesse dia fiquei muito mal mesmo.....a imagem do homem não saia do meu pensamento, e eu só chorava.... e mais uma vez, precisei ficar de molho por uns dias...aí a Márcia ia conversar comigo lá em casa.....na verdade ela ia pra levar as matéria dadas, mas quem lembrava de matérias?...nós queríamos era jogar conversa fora.....
Graças a Deus atualmente não existe tanto preconceito em relação aos epiléticos.....mas mesmo assim, fico boba ao ver como é difícil ser diferente ou ter alguma doença dita contagiosa, neste mundo doido......

2 comentários:

Unknown disse...

Juju me divirto com suas historias amiga esta do bueiro ñ da para acreditar Abrssssssssss THerezinha.

VIVA A VIDA disse...

Vc é o máximo das aventuras vividas! Viva vc pela sua bondade e amizade! Cadê a Márcia????